domingo, 19 de fevereiro de 2012

Poesia


“E eu,  que implorei viver poesia, 
esqueci  que ela pode ser triste.” 
(D. M, em 18/06/2009)


Quando li a sinopse do filme “Poesia”, no seu lançamento, em 2010, o coloquei em minha lista de “filmes porvir”. 
Primeiro de Lee Chang Dong, diretor e roteirista coreano, que ouvi falar, assisti este mês. É um bom filme. Até a ausência de cortes, que em alguns momentos seriam bem vindos, pode ser entendida pela proposta de enxergar a vida nas suas miudezas.
O roteiro traz como protagonista uma senhora, Mija (Yoon Hee-jeong), que decide fazer um curso de literatura para amenizar seu esquecimento rotineiro. Acha que leva jeito por “gostar de flores e falar coisas estranhas”, como diz sua filha ao apoiá-la na decisão. Em paralelo às aulas, descobre que o esquecimento é relacionado ao Alzheimer que desenvolveu e, se não bastasse, fica sabendo que seu único neto, adolescente, pode está envolvido no suicídio de uma garota, encontrada morta num rio da cidade. Ele e mais cinco amigos a violentaram sexualmente por 6 meses, no laboratório do próprio colégio.



Apreensivos com a penalidade possível aos filhos, os pais se juntam para negociar uma indenização com a família, de 30 milhões de won (5 milhões pra cada), evitando escândalos para seus “meninos”. Preço muito alto para Mija, tanto pelo valor, quanto pelo caráter. Dos outros cinco pais, nenhum tem a sensibilidade com a mãe da moça (que já havia perdido o marido) como Mija, que é a escolhida pelo grupo para convencê-la da oferta e encerrar o caso (essa é uma das cenas mais comoventes do filme).
Nesse conflito de vida, a protagonista não consegue escrever poesia, que na sua concepção deve ser coisa bonita e seus olhos não enxergavam beleza nos dias, eram, sim, reflexos de seu contraditório (a doença; a morte da jovem; o que se obrigou a fazer para conseguir o dinheiro da reparação, e as rodas de poesia que frequentava onde essa era, por vezes, apresentada sem muito enlevo). Tudo isso deixava turvo seu propósito. 
Ao final do curso, Mija é a única da turma a escrever uma poesia, e sobre o tema que mais gastou sua mente e coração. Momento no qual meu espírito se encontrou com o dessa senhora e quando vi ter atinado, ainda mais moça, nessa abstrusa vivência, guiada por um Fernando Pessoa que anunciava ser a vitória, desconhecimento, e lucidez, ausência de irmandade com as coisas. Viver é realmente "arriscoso" e por isso Poesia não podia ser mais humano.


Por: Denise Mascarenha

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