terça-feira, 21 de maio de 2013

Lídia

Bebo hoje ou amanhã nem sei! Não quero acordar beijando a sarjeta, deus me livre, isso não! Quero aquele estado de leveza que o álcool possibilita, quero escapar um pouco desse meu cotidiano que se tornou maçante nem sei como ou porque! Quando vi acordava do meu lado, almoçava comigo e me levava pra passear. Ficou tão íntimo e cômodo a ponto de dizer “deixa estar”! Deixei e acabou ficando. Sem saída, me sinto estranha no meu próprio habitat, construído perfeitamente para uma vida confortável e feliz a um, a dois ou a três... - quem sabe? - Sabe, estava aqui pensando em como tudo isso aconteceu, procuro o “x” da questão e volto para o mesmo lugar. Não! Não me sinto culpada pelas escolhas que fiz, foram feitas e pronto. Remediado está. Pelo sim, pelo não, fico com o talvez seja bom sair mais cedo, não puxar conversa fiada com os colegas, entrar no carro e desligar o celular, não estou afim de muito papo hoje, apesar da necessidade de falar. Olho as luzes da cidade, sinto a noite cálida e ouço o rádio tocar enquanto a melancolia me abraça forte, então deixo estar, deixo estar...: "portas abertas, sonhos que vão ao ar tudo o que sonhei/ tudo o que mais pensei/ assim tudo vai seguir/ sem muita precaução/ ah, tempo que não volta/ é vida que se desfaz/ desfez e tudo vai seguir/ é a minha condição/ tanto que nem sei mais/ porque não olhar pra trás..."

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Samuel

Andava despretensiosamente pelo asfalto quente de fim de tarde, a cabeça doída dos acontecimentos recentes. Reticente, o corpo cansado pedia trégua. As olheiras lhe entregavam a insônia, perdido nas horas, se viu revivendo cenas de um passado presente. Dia após dia naquela cena, 'quanto demora retirar as sobras de ti daqui?' Pensa que terá uma vida inteira por descobrir... fez-se silêncio e nada aconteceu depois que a porta bateu atrás de si. O triste adeus, 'como pode acabar assim?' Acabou assim.

sábado, 11 de maio de 2013

Carlos

Ele levantou como se 10 anos tivesse passado naquelas poucas horas de silêncio. Levanta mudo percebendo o movimento dos carros a voarem abaixo dos seus 10 andares. Tem uns 5 ouvidos. A água fria o faz acordar para mais um dia de mesmice. Tem cheiro de café. Pele jeans. Um tamanho miúdo que o faz deslizar pelas ruas sem olhares diretivos. Dentro dele bate um coração, e moram umas 23 pessoas. No fim do dia, volta pra casa. Faz uma sopa pra esquentar a vida por dentro. Deita embalado num choro sentido, que entontece a alma. Sua dor agora descansa em paz!